Texto sobre estados de cons.
Re: Texto sobre estados de cons.
A moeda pode estar a sair agora mesmo da casa da moeda, ser apanhada numa pano de veludo e não estar Flor de Cunho, terá sempre um mínimo sinal de abrasão, um pequeno toque que o disco sofreu antes de entrar no cunho, algo que é aceitável numa moeda Soberba (repito, o melhor estado que eu já vi) mas não numa Flor de Cunho.
Os estados de conservação não são opiniões pessoais nem interpretações subjectivas, são o resultado de uma observação criteriosa, informada e da experiente.
Os estados de conservação não são opiniões pessoais nem interpretações subjectivas, são o resultado de uma observação criteriosa, informada e da experiente.
MCarvalho
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Re: Texto sobre estados de cons.
Assim diz a teoria. Na prática vemos que os conceitos tendem a ser um tanto "elásticos"... O que até se poderá compreender até um certo limite. Mas, como disse recentemente um forista, o importante é o que um coleccionador acha da sua colecção. É assim que eu procedo, tentando também (ou em primeiro lugar) não me iludir a mim próprio.MCarvalho Escreveu: Os estados de conservação não são opiniões pessoais nem interpretações subjectivas, são o resultado de uma observação criteriosa, informada e da experiente.
PS: Quando referi ter recebido algumas moedas FDC, de facto não vejo qualquer tipo de dano ou marca. Chegaram-me às mãos acondicionadas nos alvéolos e vistas à lupa estão limpas. Mas, como não lucro em nada em considerá-las FDC pois não as vou vender, passarei a considerá-las Soberbas nos meus registos.
Re: Texto sobre estados de cons.
Enquanto coleccionadores e amadores, sim, percebo essa subjectividade. Mas levando as coisas a sério, como as leiloeiras de maior prestígio ou as associações numismáticas, a atribuição de estados é bastante rigorosa e objectiva, poderá haver, como em tudo que é humano, alguma ligeira subjectividade, mas não entra a questão do gosto pessoal ou do "acho que".Na prática vemos que os conceitos tendem a ser um tanto "elásticos"
MCarvalho
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Parece-me quase uma tabela de notação financeira... risos... falta acrescentar o estado JUNK... aquele que classifica todas as moedas (independente do metal) que vão para a fundição e que agrega todos os outros estados.
- vladiaqueiroz
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um pouco de transcendência ao papo tão pragmático
Fico me perguntando se é justo classificar uma moeda que nunca circulou na mesma classificação das moedas circulantes. Será que alguém aqui consegue compreender esse meu ponto de vista? O fato é que colecionar moedas pra mim não é investimento. Também não é um simples registro histórico de um fato, uma data comemorativa, um presidente, seja o que for a temática da moeda. Colecionar moedas para mim é colecionar vontades e desejos que fizeram aquela moeda chegar às minhas mãos. É colecionar a energia acumulada pelos anos, a história impregnada na matéria: em seus riscos, em seus danos. Mas não a história das datas e sim a história vivida das mãos que a tocaram. Muito romântico? Muito subjetivo? Pode ser, acho que sim. E acho que só por isso me interesso verdadeiramente pela numismática. Porque posso tocar algo que atravessou gerações, que foi motivo de guerras e que ainda assim também foi motivo de cuidado, de resistência. Uma bela ou soberba ou seja qual a classificação dada à moeda é aquela que foi mais forte que o tempo e mais amada também. Mas e as moedas que nunca circularam? Que nunca cumpriram a sua função de moeda? Que atravessaram anos sem serem tocadas, em embalagens transparentes, sendo vendidas a peso de ouro. Mas nunca colocaram um pão na mesa, nunca chegaram às mãos de uma criança, nunca foram um trocado que seja, logo elas que nasceram pra serem trocados ou trocadas. Tenho algumas destas moças, consideradas "flores", mas tenho mais compaixão por elas que amor. Por outro lado, tenho outras moças que talvez mais gastas ou mais vividas ganharam um peso mais forte que elas mesmas, de um desvalor cheio de charme e graça que jamais me faria ter compaixão por elas. São moças mundanas, profanas, moças da rua, da esquina, moças que sabem cada quinhão que valem e por isso os únicos sentimentos que podem despertar é desejo, é paixão. Então, será que é justo atribuir os mesmos valores a destinos tão estranhamente distintos?
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Re: Texto sobre estados de cons.
@vladiaqueiroz:
Cada coleccionador tem as suas motivações, isso é com ele. O que aqui importa é o estado de conserevação das moedas, e aí só conta mesmo isso: o estado em que elas estão.Enquanto coleccionadores e amadores, sim, percebo essa subjectividade. Mas levando as coisas a sério, como as leiloeiras de maior prestígio ou as associações numismáticas, a atribuição de estados é bastante rigorosa e objectiva, poderá haver, como em tudo que é humano, alguma ligeira subjectividade, mas não entra a questão do gosto pessoal ou do "acho que".
- vladiaqueiroz
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Re: Texto sobre estados de cons.
Oi cargil48,cargil48 Escreveu:@vladiaqueiroz:
Cada coleccionador tem as suas motivações, isso é com ele. O que aqui importa é o estado de conserevação das moedas, e aí só conta mesmo isso: o estado em que elas estão.Enquanto coleccionadores e amadores, sim, percebo essa subjectividade. Mas levando as coisas a sério, como as leiloeiras de maior prestígio ou as associações numismáticas, a atribuição de estados é bastante rigorosa e objectiva, poderá haver, como em tudo que é humano, alguma ligeira subjectividade, mas não entra a questão do gosto pessoal ou do "acho que".
Como eu coloquei no titulo, a idéia do que escrevi foi justamente deixar o pragmatismo de lado um pouco. Porque acredito, e isso não se trata de "achismo" que a conceituação subjetiva persiste pareada à conceituação pragmática. Óbvio que um Van Gogh vale pelo nome Van Gogh e o valor que os 'marchans' atribuem a ele. Mas se não fosse a subjetividade, se não fosse o sentimento que envolve fruidor e obra certamente Van Gogh não seria Van Gogh. Da mesma forma encaro a numismática. Claro que existe todo um mercado em torno e no mundo que vivemos tudo é capitalizável, principalmente o dinheiro, seja ele circulável ou não. Mas se não fosse o lado subjetivo, ou como você mesmo diz, as motivações dos colecionadores nem esse mercado existiria. Existe porque há um desejo pela perfeição, pelo belo enquanto perfeito, não pelo belo enquanto imanência. O mercado profissional supre uma necessidade humana de chegar a ausência de falhas, de chegar ao divino, apenas isso. O mercado existe feito pelos homens e para os homens, ele não paira acima da nossa vontade, do nosso desejo. O que movimenta o ser humano é antes de tudo um sentimento, como diria Damásio, o neurobiólogo. E talvez, quase no com certeza, digo a mesma coisa porque sou artista de profissão e enxergo a realidade por um prisma diferenciado. Mas o que eu digo, digo de mim, não se trata de uma verdade universal, digo do ponto de vista de pesquisadora também, no qual me enquadro, e de quem percebe que a mais pragmática das decisões é antes de tudo pessoal, é antes de tudo um desejo a ser cumprido. Agora sim, talvez, esse é um tipo de avaliação um pouco estranha a este fórum, e por isso a divisão do que é ou não é "levar a sério".
Re: Texto sobre estados de cons.
Isso é outra questão completamente diferente.Óbvio que um Van Gogh vale pelo nome Van Gogh e o valor que os 'marchans' atribuem a ele.
Quando digo que os estados de conservação devem ser vistos como sendo objectivos, refiro-me apenas a isso: a avaliação do aspecto físico da moeda, nada mais.
O seu valor comercial, estético, histórico, a sua procura de mercado é algo completamente diferente, que é realmente subjectivo e aí variará, claro, conforme o coleccionador, conforme até as épocas históricas.
MCarvalho
- vladiaqueiroz
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Re: Texto sobre estados de cons.
Esse é o ponto: não há objetividade sem subjetividade. E talvez por isso exista esse tópico com tantas formas diferentes de avaliação objetiva de uma mesma coisa. O que vemos ou o que somos capazes de ver está impregnado de subjetividade. Essas duas coisas se misturam e se confundem. Nossa visão é viciada pelos nossos desejos. Você pode me descrever uma moeda risco a risco, mas essa moeda nunca será a mesma que eu vou ver, nem os riscos são os mesmos. O que talvez seja difícil entender é que não existe exatidão ou objetividade que sobreviva de forma autônoma, ou que a observação não pode ser imparcial. Não existe profissão tão exata capaz de anular ou afastar a subjetividade de suas decisões. E quando falo que a moeda que você vê e me descreve nunca será a que eu vejo e como eu a descreveria não falo simplesmente de forma subjetiva, mas é em seu aspecto físico mesmo. Nós seres humanos não somos dissociáveis como pensava Platão. Não somos subjetivos quando falamos de sentimentos e objetivos quando falamos de características. Somos subjetivos e objetivos quando falamos de um e de outro.
Re: Texto sobre estados de cons.
A objectividade e a objectividade existem sim e devem ser cultivadas, caso contrário caímos no erro do relativismo.
É objectivo fazer uma análise descritiva de uma moeda, será subjectivo o seu grau de interesse, o seu apelo. Mas características como o peso, a leitura, o módulo e o estado de conservação, são e deverão ser objectivos.
Naturalmente que haverá sempre um grau de subjectividade na avaliação de estados de conservação, mas é um grau que é tanto menor, quanto maior for a experiência e o conhecimento do avaliador. A questão é que cada vez mais se confundem critérios com gostos, mas isso é um problema de conhecimento e de dificuldade de distinguir entre o que é factual (aquilo que é verificável, que está para além dos indivíduos) e o que é circunstancial, como os gostos e os desejos de cada um.
Darei um exemplo:
Dados objectivos:
A moeda X pesa 25 g e tem um módulo de 30 mm.
No seu anverso ostenta o seguinte letreiro em redor do bordo, no sentido dos ponteiros do relógio: MOEDA DE UM CENTAVO.
No reverso ostenta o letreiro horizontal em duas linhas sobrepostas: PAÍS DO ATLÂNTICO / ANO 2011
A moeda X foi cunhada em bronze, numa liga de 800 milésimas de cobre e 200 milésimas de estanho.
A moeda X não apresenta vestígios de circulação, preserva a integridade total do brilho de cunhagem, sofre apenas de ligeiros toques de contacto, está no estado Soberbo.
Dados subjectivos
O coleccionador M. não gosta da moeda X, entende que é uma moeda comum, desprovida de valor estético e sem interesse para a sua colecção. O coleccionado M. não se interessa por moedas de bronze.
Os coleccionadores S. e R. ficaram fascinados pela moeda X. O coleccionador S. gosta da simplicidade da moeda X e pretende adquiri-la; o coleccionador R. é um entusiasta das emissões do País do Atlântico e ainda não tem um exemplar da moeda X. O coleccionador R. ofereceu uma quantia de 100 valores pela moeda X, mas o coleccionador S. oferece 110 valores.
É objectivo fazer uma análise descritiva de uma moeda, será subjectivo o seu grau de interesse, o seu apelo. Mas características como o peso, a leitura, o módulo e o estado de conservação, são e deverão ser objectivos.
Naturalmente que haverá sempre um grau de subjectividade na avaliação de estados de conservação, mas é um grau que é tanto menor, quanto maior for a experiência e o conhecimento do avaliador. A questão é que cada vez mais se confundem critérios com gostos, mas isso é um problema de conhecimento e de dificuldade de distinguir entre o que é factual (aquilo que é verificável, que está para além dos indivíduos) e o que é circunstancial, como os gostos e os desejos de cada um.
Darei um exemplo:
Dados objectivos:
A moeda X pesa 25 g e tem um módulo de 30 mm.
No seu anverso ostenta o seguinte letreiro em redor do bordo, no sentido dos ponteiros do relógio: MOEDA DE UM CENTAVO.
No reverso ostenta o letreiro horizontal em duas linhas sobrepostas: PAÍS DO ATLÂNTICO / ANO 2011
A moeda X foi cunhada em bronze, numa liga de 800 milésimas de cobre e 200 milésimas de estanho.
A moeda X não apresenta vestígios de circulação, preserva a integridade total do brilho de cunhagem, sofre apenas de ligeiros toques de contacto, está no estado Soberbo.
Dados subjectivos
O coleccionador M. não gosta da moeda X, entende que é uma moeda comum, desprovida de valor estético e sem interesse para a sua colecção. O coleccionado M. não se interessa por moedas de bronze.
Os coleccionadores S. e R. ficaram fascinados pela moeda X. O coleccionador S. gosta da simplicidade da moeda X e pretende adquiri-la; o coleccionador R. é um entusiasta das emissões do País do Atlântico e ainda não tem um exemplar da moeda X. O coleccionador R. ofereceu uma quantia de 100 valores pela moeda X, mas o coleccionador S. oferece 110 valores.
MCarvalho