#13
Mensagem
por numisiuris » sábado jun 03, 2017 1:50 am
Lembrei-me de uma coisa. A lógica de pensamento que temos hoje em dia, acaba por estar muito influenciada por uma rápida absorção de muitos e diversificados fenómenos. Até aliás há bem poucos anos, e hoje ainda, em muito maior escala do que o que se pensa, havia muitas povoações, a maioria das povoações do país, em que as pessoas viviam isoladas e de uma forma comunitária. O comunitarismo de quem só vai à cidade de ano a ano já não existe, mas existem resquícios de modos de pensar, herdados por tradição e educação, que transparecem ainda hoje em dia esse modo de pensamento mais fechado e sobretudo com mais tempo. Imaginando-se um mundo sem televisão, sem internet, sem jornais, imagina-se um mundo em que se reflectem muitos modos de agir, determinados por um pensamento próprio, que ainda hoje se observam em determinados locais. Mais afastados, mais desertificados. Nesses sítios, as pessoas vivem um pouco “às aranhas”. Até há bem pouco tempo não havia internet e, há uns 30 anos, não havia televisão. Os modos de negociar, eram completamente distintos. Quem vende hoje um cigarro avulso? Pois eu ainda os comprei muitas vezes em quiosques. Divide-se, corta-se, emenda-se. Nada vai muito a direito. Há muito tempo para pensar. Não como hoje, tudo é padronizado. Os núcleos urbanos não eram assim. Nunca foram assim. Nem as povoações rurais no seu redor, que com eles mantinham laços estreitos. Mas para zonas do interior, as coisas seriam diferentes. Ainda conheci eu, em muito pequeno, um indivíduo que vivia com o irmão no meio do pinhal, sem luz nem água canalizada. Com o irmão primeiro, que já não conheci, e depois sozinho. Mas nos anos 80, lá vinha ele a pé até à cidade, uma ou duas vezes por ano. Trazia umas coisas que fazia manualmente, ou produtos agrícolas, ou caça e trocava-as por ferramentas ou coisas de que precisava. O sítio em que vivia, em linha recta, estava a 4 km da povoação mais próxima, que raramente frequentava. Isto acabou com o indíviduo a ser resgatado pela segurança social. Levaram-no para um lar, em São Vicente da Beira, e morreu meses depois. Isto tudo para dizer, que se recuarmos 700 ou 800 anos e amplificarmos tudo isto, acabamos com uma parcela da sociedade muito distinta da que existia junto a aglomerados urbanos e que não é alvo de historiografia, porque nesses sítios nada de relevante para a história acontecia. E em 1279, antes e mesmo depois, eram muitos sítios, com muitas pessoas. Que acabavam por vir à feira, ou à festa religiosa. De resto, não saíam de ao pé das terras que cultivavam e dos animais que apascentavam. Ora, pessoas sem qualquer rotina urbana e sem uma noção clara do valor do dinheiro, embarcariam naturalmente em negócios fora do normal. As coisas seriam casuísticas e tudo poderia acontecer, penso. Mas isto são ideias esparsas. Nem sei se faz sentido colocá-las aqui mais do que para conversarmos. Os sítios onde se fizeram feiras medievais, serão talvez os mais indicados para encontrar achados deste género. Talvez numa amostra (não de um tesouro, que reflecte meras realidades que podem ser casuísticas e circunstanciais – quantos se encontram apenas com um ou dois tipos?) de um achado. ou vários, numa localização dessas, trouxesse luzes efectivas quanto ao numerário em circulação. A serem possíveis estes quartos de dinheiro, seriam naturalmente mínguas do que circularia. E seriam naturalmente excepções. Mas o que não descarto é a hipótese real de terem existido “objectos” (chamemos-lhe assim) destes que tenham cumprido a sua função liberatória efectiva em dado momento da história.