Parabéns ao Iuri e a quem o ajudou, pelo excelente trabalho apresentado

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A minha anterior intervenção até pode parecer estúpida pelo facto de serem óbvios os factos apresentados, mas na verdade estava apenas a colocar questões que se olharmos em todas as direções podem suscitar dúvidas que abanam algumas certezas. O último ano do Reinado de D. Fernando foi tão rico em incertezas, que tudo pode ser possível, convém é apresentar factos materiais conclusivos. Depois do tratado de paz Elvas-Badajoz ente D. Fernando e D. João I de Castela em 10 Agosto 1382, o primeiro refugia-se em Salvaterra e só de lá sai para falecer no passo de Almada em 22 Outubro 1383. Perante uma situação destas, é muito provável que a Rainha D. Leonor Teles (feliz com o Conde Andeiro) tenha tomado decisões à revelia do Rei de Portugal, como se ele estivesse já morto. Seja como for, não é uma situação que possa ser provada e os factos materiais existentes são escassos e não nutrem certezas claras. A questão que importa agora abordar, são as moedas de D. Beatriz e onde é que podem ter sido batidas para circulação, se é que foram. As crónicas apesar de não serem cópias fiéis da verdade, apresentam fortes indícios, e pela forma como escasseiam outros dados, servem perfeitamente para dar respostas. Os cunhos foram abertos e cunhou-se moeda, mas quantas e onde? Na minha maneira de ver as coisas, acredito que os cunhos foram abertos em Sevilha e viajaram para Santarém com o propósito de cunhar moeda em nome de Dona Beatriz já como Rainha, e podem muito bem ter sido cunhadas algumas moedas também em Sevilha, tipo prova talvez, que chegaram de igual forma a Santarém. Importa agora identificar a janela temporal necessária para implementar as intensões, que existiram sem dúvida alguma, porque o Rei de Castela veio para Portugal reclamar o trono, disso não há dúvida. Mas será que conseguiu reunir a estabilidade necessária para impor essas condições, Reinar e cunhar moeda?
Em 2 de Abril de 1383 é assinada a escritura de Salvaterra de Magos onde é estabelecido o acordo de casamento de D. Beatriz com o Rei de Castela, D. João I. Sendo filha única de D. Fernando, o seu futuro poderá ter suscitado entre a Nobreza Portuguesa alguma apreensão em relação à soberania, o que a meu ver e por uma questão reativa, pode ter criado movimentos organizados de resistência que numa primeira abordagem, devem ter-se focada na obtenção de informações relativamente aos planos régios perpetrados pela Rainha, para depois os entregar à outra opção de governação, o Mestre de Avis. Neste contexto, qualquer intenção de bater moeda em Santarém não passaria despercebida.
Em 10 de maio 1383, a Rainha D. Leonor dirige-se para Elvas com a filha D. Beatriz e todo o séquito necessário para organizar as festividades casamenteiras, D. Fernando Fica em Salvaterra com a justificação de estar doente. No dia 14 de maio de 1383 dá-se o banquete de encerramento em Elvas e todo o Arraial é levantado para se iniciar a viagem para Badajoz e em 17 maio 1383, Dona Beatriz com apenas 10 anos e 3 meses casa com D. João I na Sé de Badajoz numa cerimónia presidida pelo Bispo de Sevilha.
No dia 22 Outubro 1383 morre D. Fernando e a Rainha D. Leonor, dá início à regência porque ficou acordado na escritura de Salvaterra que até a Dona Beatriz fazer 14 anos ela seria a Regente. A regência começa logo com a contestação dos Nobres de Lisboa, em parte motivado pelo estado em que estão as finanças mas também pelo facto de não esconder mais o Amante. O próprio irmão, D. João Afonso Telo, o conde de Barcelos e governador de Lisboa demonstra repugna pelos factos apresentados e aproxima-se do mestre de Avis, tendo tentado duas vezes sem êxito, matar o indigno amante da Rainha.
No dia 6 de Dezembro de 1383, o Mestre de Avis dirige-se ao paço da Rainha na companhia de muitos nobres, incluindo o irmão da Rainha, e mata o conde Andeiro. A D. Leonor perante a situação foge para Alenquer e depois para Santarém onde estabelece a corte de apoio a Castela.
Em 16 de Dezembro 1383, o Povo de Lisboa aclama o Mestre de Avis Regedor e defensor do Reino e no final de Dezembro princípios de Janeiro, D. Nunes Álvares Pereira ocupa o castelo de São Jorge e entrega-o ao Mestre. Depois deste acontecimento, a Rainha pede ajuda ao genro, que é Rei de Castela, e começam uma série de batalhas com as forças castelhanas a reclamar o reino em nome de D. Beatriz. Uma das primeiras é a batalha dos Atoleiros em Fronteira-Portalegre, em 6 Abril de 1384, na qual D. Nunes Alvares Pereira surpreende tudo e todos apresentando uma inovação militar, a tática do quadrado.
Em 12 de Janeiro de 1384 o Rei de Castela chega a Santarém e tenta persuadir D. Leonor a abdicar da regência, o que acontece no dia 13 e D. Beatriz e D. João I ficam assim à frente dos destinos do Reino. No dia 29 de Maio de 1384 cerca Lisboa, mas em 3 Setembro do mesmo ano teve que levantar o cerco porque a peste atingiu os soldados castelhanos e também a D. Beatriz. Se foram batidas moedas em Santarém em nome de Dona Beatriz para circulação, terá sido depois de 13 de Janeiro, dado a legitimidade conseguida com a abdicação da regência, se é que isso era um impedimento, e não devem ter tido muito tempo porque em Maio desse mesmo ano começaram a deixar de ter condições de segurança e em Setembro têm o grande contratempo de Lisboa. Então afinal onde é que andam essas moedas?