NOTAS SOLTAS (1)

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José Duarte
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NOTAS SOLTAS (1)

#1 Mensagem por José Duarte » quarta mar 22, 2017 1:13 am

Nota prévia
A generalidade dos colecionadores “passeia” por vários tipos de colecionismo, mesmo quando o seu foco assenta num, em particular. Outros, povoam o universo colecionista por sequências temporais de interesse, ou em simultâneo, com igual vigor.
Revejo-me neste universo, ora em simultâneo, ora por camadas sequências de adesão a novos tipos de coleções; mas sempre com um objetivo, reforçando o meu desfrute de lazer com prazer: estudar e investigar o objeto da coleção.
Uma atitude que me incentivou e proporcionou, desde os anos 80, a publicar regularmente artigos e apontamentos em revistas, catálogos de exposições nacionais e estrangeiras, além de produzir e editar vários livros-catálogos multilingues em áreas tão distintas como a Filatelia/Maximafilia e a Telecartofilia.
A par da Filatelia, a Numismática foi uma das minhas paixões precoces. Outras coleções integraram o meu núcleo de interesses ao longo dos anos, umas mais excêntricas, outras bem normais, embora menos comuns.
E aqui chegamos à Notafilia. Sempre apreciei as notas… mas só no final de 2008 um acontecimento particular me direcionou decisivamente para colecioná-las em vez de guardar uma ou outra por simpatia temática-histórica ou pela estética do design.
Tendo noção da minha realidade financeira balizei o âmbito e tipo de coleção à segunda metade do século XX. Nos últimos três anos fui alargando o desejo em modo controlado. Hoje, para lá de colecionar as notas emitidas pelo Banco de Portugal (BdP), sempre que possível em Estado de Conservação (EC) Novas ou QNovas, dos últimos 50 anos do século passado, por chapa/data/assinaturas, mais as de ‘substituição’, ‘espécimes’, ‘provas e ensaios’ e algumas ‘excentricidades’ de sabor pessoal, ampliei o espaço da coleção às notas da República desde o início, ao menos uma por chapa… embora saiba que muitas não passarão de desejo.
Com a publicação de ‘Notas Soltas’ move-me o espírito de divulgação da Notafilia, soltando informação e pistas para que cada um a seu modo possa soltar-se também e colecionar a seu gosto, à medida da sua carteira e de forma inovadora.

Colecionar por Séries/Prefixos Especiais
Há muitas formas de se colecionar notas. Por país, por região, por tema, etc. Como nos reportamos ao colecionismo das notas de Portugal, período Escudo, afigura-se normal colecionar em modo cronológico e clássico, ou seja, por chapa e valores, limitando ou não o período temporal. Numa abordagem mais elaborada podemos incluir as várias datas dentro de cada chapa e no limite especializar ainda mais a nossa coleção geral, introduzindo as diversas combinações de assinaturas.
Pode ainda alargar-se o âmbito da especialização. Referimo-nos às conhecidas ‘Notas de Substituição’, que guias e preçários conhecidos há muito disponibilizam a respetiva identificação, vertida em tempos por fonte do Banco de Portugal (BdP), algumas das quais bastante difíceis de encontrar. E a especialização pode ainda incluir Espécimes, Provas, Ensaios, Erros, Capicuas, etc.
A proposta de hoje centra-se no colecionismo, limitando o período a abranger ou não, das ‘Primeiras’ e das ‘Últimas’ séries/prefixos das notas.
Quando uma chapa se desdobra por várias datas, podemos eleger uma de duas opções:
1 - Colecionar apenas a primeira série da primeira data e a última série da última data.
2 – Colecionar aquelas e as restantes ‘irmãs’ das várias datas da chapa.

Nota de 500$00, chapa 12
500ESC.CH12.ESPÉCIME.jpg
A título de exemplo vamos abordar a nota de 500$00, chapa 12, Mouzinho da Silveira, que foi emitida com datas entre 1987 e 1994, apresentando ainda emissões de 1988, 1989, 1992 e 1993 (2), ou seja, se7e datas distintas e outros tantos pares de séries/prefixos, iniciais e finais.
Convém observar que as séries atribuídas como primeiras e últimas por vezes não confirmam esse ‘estatuto’; é o que acontece nesta chapa com a última de 1988 (BDB e não BDN) e a última de 1994, logo a última da chapa (CJR e não CJQ). A origem da dessintonia destas duas séries terá razões diferentes, mas o que importa é retificá-las.
Vale a pena investigar, cruzar dados e confirmar a informação conhecida, antes de a adotar como verdade absoluta, ainda que as principais dúvidas/falhas de informação se centrem em emissões mais antigas para as quais faltam elementos e escasseiam as evidências.
Pontualmente, alguma destas notas especiais pode coincidir com uma nota de Substituição. Nesta chapa encontramos essa ‘dupla classificação’ nas notas das duas datas de 1993 (18 de março e 4 de novembro), CGS e CJC, que fecham as respetivas datas.
Conforme o quadro abaixo, esta chapa permite selecionar de 2 a 14 séries/prefixos especiais, conforme deseje colecionar pela opção 1 ou 2 acima referida.
Neste caso, a primeira série da chapa é a ABB, sendo a última a CJR. Pelo meio encontramos as referidas ‘irmãs’.
500ESC.CH12.ABB1987+CJR1994.jpg
O BdP refere que no total foram emitidas 179,106 milhões de notas, com uma primeira emissão a 7 de outubro de 1988 e a retirada de circulação em 30 de abril de 1998.
As datas inscritas nas sucessivas ‘tiragens’ e respetivas séries são as seguintes:
NS1.Tabela1.JPG
500ESC.CH12.CCC1989+CCD1992.jpg
500ESC.CH12.CJC1993+CJD1994.jpg
A figura e o autor da nota
José Xavier Mouzinho da Silveira (Castelo de Vide, 1870 – Lisboa, 1849) foi um ilustre estadista português e figura maior da revolução liberal. As maquetas da nota são da autoria do artista plástico Professor Luís Filipe de Abreu (aprovadas pelo CA do BdP de 25 de março de 1986), personalidade das artes que notafilistas e filatelistas bem conhecem de outras obras fiduciárias (12 notas) e da vasta criação de quase 150 originais para selos postais, vários deles premiados internacionalmente.

Breves notas técnicas
As chapas e a estampagem das notas ficaram a cargo da empresa sueca AB Tumba Bruk, de Tumba, um subúrbio da área metropolitana de Estocolmo e onde aquela firma produz as notas de Coroa(s) sueca (krona/Kronor).
A aposição do texto complementar (série, numeração, data e as palavras ‘O Governador’, ‘O Vice-Governador’, ‘O Administrador’ e as chancelas das assinaturas) foram tratadas nas oficinas do BdP.
A estampagem calcográfica da frente ilustra, a castanho e violeta, a efigie de Mouzinho da Silveira, além de imagética variada. No canto inferior esquerdo apresenta uma marca circular para facilitar a leitura a invisuais.
O fundo em offset em tom predominantemente avermelhado-salmão revela vários motivos decorativos de ligação agrícola, que o homenageado apoiou ao longo da vida.
Na estampagem calcográfica do verso, a três cores (castanho, verde-azeitona e violeta), ressalta uma composição agrícola sobre fundo offset a três cores simultâneas com motivos gráficos semelhantes aos da frente.

Papel
O papel foi fabricado pela mesma firma sueca que estampou as notas. Apresenta marca de água com o retrato de Mouzinho da Silveira, visto pela frente, à transparência, no lado direito. Um filete de segurança vertical na metade esquerda da frente da nota foi incorporado no papel. Apresenta, por microimpressão, o dístico Portugal.

Dimensões e assinaturas
As dimensões da nota (incluindo as respetivas margens) medem 156x74 mm.
Ao longo das se7e datas desta chapa podem contar-se 40 pares de assinaturas conhecidas. Dada a extensão da descrição, registo apenas os nomes dos três Governadores que as assinaram: José Alberto Vasconcelos Tavares Moreira (1987, 1988, 1989 e 1992); Luís Miguel Couceiro Pizarro Beleza (as duas emissões de 1993, com a particularidade de também ter assinado nas datas anteriores, na qualidade de Administrador); António José Fernandes de Sousa (1994).

Aqui fica uma proposta de coleção especializada alternativa e ou complementar à coleção base de notas de Portugal. Uma das suas vantagens centra-se na possibilidade de podermos flexibilizar o âmbito da mesma. Optamos por uma seleção de notas com a primeira e a última série de cada chapa ou alargamos o conjunto das primeiras e últimas séries de cada data da chapa, sempre que haja várias datas.
Pesquise e avance. Vá fazendo a coleção passo a passo até ir fechando cada chapa. Ainda me faltam muitas, mesmo das mais modernas, como é o caso de algumas desta chapa 12.
Fica a proposta, a escolha é sua.

Fontes:
 O Papel-Moeda em Portugal, 2ª edição (revista e atualizada em 2 volumes), BdP 1997
 Assinaturas das Notas do Banco de Portugal, edição BdP 1999
 Coleção pessoal
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Cumprimentos,
José Duarte

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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#2 Mensagem por tm1950 » quarta mar 22, 2017 11:32 am

Meu caro José Duarte
Excelente apontamento com uma sugestão curiosa para mais uma proposta de complementar a colecção.
Vou procurar segui-la nas Chapas mais vulgares e sempre que me apareçam.
É com grande expectativa que aguardo novas "notas soltas".
Celso.
Saúde e Fraternidade.
Os meus leilões

José Duarte
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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#3 Mensagem por José Duarte » quarta mar 22, 2017 10:20 pm

Prezado amigo Celso,
Agradeço o seu incentivo e folgo por saber que também acha interessante a sugestão vertida neste 'Notas Soltas'.
Procurarei com alguma regularidade ir deixando novas NS, assim haja interesse dos foristas, a quem se destinam.
O objetivo é o de deixar algumas sugestões e novidades, sempre com o foco na divulgação, no gosto e no interesse pela Notafilia de Portugal.

Caros foristas,
Espero que para lá das eventuais visualizações, outros comentários, dúvidas e questões possam ser colocadas, particularmente por aqueles que têm por gosto a Notafilia. Mas todos são bem-vindos.
Afinal, aprendemos uns com os outros.
Cumprimentos,
José Duarte

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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#4 Mensagem por tm1950 » quarta mar 22, 2017 10:42 pm

Uma vez que as notas datadas de 1994 contemplam a série CJR, o total da emissão desta Chapa poderá ser diferente de 179.106.000 notas.
É um assunto a ver.
Celso.
Saúde e Fraternidade.
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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#5 Mensagem por José Duarte » quarta mar 22, 2017 11:38 pm

Sim, é uma dúvida lógica e a considerar.
Penso, no entanto, que a informação também pode estar correta.
O total das 179.106.000 desta chapa vertido pelo BdP no livro de 1999 é de data posterior à retirada de circulação das mesmas (30 de abril de 1998) e com as notas da chapa 13 já em circulação.
Sendo a CJR a última série da última data da chapa 12 (em fim de vida), possivelmente foi considerada (erradamente) que não terá sido colocada em circulação. Daí a informação de que a última série da chapa seria a CJQ. Penso, no entanto, que não haverá muitas notas da série CJR.
Simples especulação (lógica) à falta de melhor informação.
Cumprimentos,
José Duarte

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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#6 Mensagem por tm1950 » quinta mar 23, 2017 11:37 am

Eu tenho a CJR 779791 pelo que é provável que tenham sido emitidas 1 milhão, ou perto disto, com a série CJR.
Estive a ver a data de Nov1993, em que teriam sido emitidas 25 milhões, equivalentes às 25 séries: CGT; CGV; CGX; CGZ; CHB; CHC; CHD; CHF; CHG; CHH; CHJ; CHK; CHL; CHM; CHN; CHP; CHQ; CHR; CHS; CHT; CHV; CHX; CHZ; CJB; CJC.
É curioso notar que não foram utilizadas vogais na segunda e terceira posições da série.
Há algo de errado na quantidade de notas emitidas com a data de 1994, com as séries: CJD; CJF; CJG; CJH; CJJ; CJK; CJL; CJM; CJN; CJP; CJQ; CJR.
São 12 séries e custa a entender como foram emitidas 10,46 milhões. :think:
Celso.
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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#7 Mensagem por tm1950 » sexta mar 24, 2017 11:13 am

As notas datadas de Mar1993 tiveram as séries de CFQ a CGS para um total de 22 milhões de notas emitidas. Ou seja, as 22 séries: CFQ; CFR; CFS; CFT; CFV; CFX; CFZ; CGB; CGC; CGD; CGF; CGG; CGH; CGJ; CGK; CGL; CGM; CGN; CGP; CGQ; CGR; CGS com um milhão de notas cada série.
Nesta hipótese teriam sido emitidas todas as notas da série de substituição CGS - um milhão.
Tudo parece bater certo e a fazer sentido.
Celso.
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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#8 Mensagem por RubenGMelo » sexta mar 24, 2017 5:27 pm

Caro José Duarte,

Felicito pelo excelente artigo "Notas Soltas", agarrou-me durante algum tempo a uma boa leitura e análise.
José Duarte Escreveu:as notas emitidas pelo Banco de Portugal (BdP), sempre que possível em Estado de Conservação (EC) Novas ou QNovas, dos últimos 50 anos do século passado, por chapa/data/assinaturas, mais as de ‘substituição’, ‘espécimes’, ‘provas e ensaios’ e algumas ‘excentricidades’ de sabor pessoal, ampliei o espaço da coleção às notas da República desde o início, ao menos uma por chapa… embora saiba que muitas não passarão de desejo.
À semelhança do caro amigo, faço colecção da mesma forma, mas apenas coleciono por assinaturas apartir de 1960!

Nesta chapa, que muito bem o caro amigo descreve, tenho quase completa, pois apenas falta uma Assinatura/Nota de substituição com o prefixo ABC. Faço questão de ter os espécimes, provas/ensaios, aliás não resisto a este tipo de notas! Em termos de Capicuas, Capicuas Reais, Nº seguidos, primeira/última série, etc, apenas os adquiro quando surge uma boa oportunidade.

Estive a ver a minha tabela e só tenho como "últimas séries", a CGS e a CJC e só as tenho por razões óbvias. Tenho tb nº seguidos da CJQ mas pelos vistos não faz parte da "última série" :(

Partilho tb o meu espécime:
Imagem Imagem


Aguardo impacientemente pelo próximo artigo de "Notas Soltas".
Cumprimentos,

Ruben Melo

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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#9 Mensagem por tm1950 » sexta mar 24, 2017 10:06 pm

De regresso às séries, agora das notas datadas de 1987, surgiu-me uma hipótese curiosa.
As séries são: 19x10+10=200

Imagem

Como cada série contempla 100.000 notas, teríamos 20.000.000 notas. Como o BdP refere que são 19.900.000 parece haver uma série a mais.
A tal hipótese curiosa é se a série que estará a mais for a ABC. Não que ela não tenha existido, porque sabemos que existiu, mas porque talvez as notas desta série ABC tenham sido colocadas em circulação apenas quando substituíam notas degradadas que não chegaram a entrar no giro.
Esta hipótese até ajudava a explicar o número reduzido de notas ABC que temos encontrado, bem como as duas seguintes ANX e BDL. :think:
Celso.
Saúde e Fraternidade.
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Re: NOTAS SOLTAS (1)

#10 Mensagem por RubenGMelo » sexta mar 24, 2017 11:17 pm

É uma hipótese. Não sabemos se a emissão de todas as séries foram uniformes, ou seja, se todas tiveram uma tiragem de 100.000. Outra hipótese é haver algumas séries com valores de tiragem menores (apesar de todas as séries possuírem 6 dígitos).
Cumprimentos,

Ruben Melo

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