600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
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- doliveirarod
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600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Segue um exemplar interessante:
600 reis coroados sobre Cob de 8 reales, tipo com colunas.
Bolívia Colonial
Potosi
1671 P - E
prata
25,1 gramas
P(otosi) E(rgueta) - Manuel de Ergueta - Ensaiador.
A peça está em boas condições embora tenha alguma corrosão marinha. O carimbo é dos bons! A moeda tem um "plus", pois apresenta datação da base, e duas vezes, pois pode ser vista a data 1671 nos dois lados, além da letra do ensaiador, a conjunção de todas essas informações e do carimbo não é algo muito fácil de ver!
Como se sabe esse carimbo foi ordenado pelo Alvará do Reino de 22 de março de 1663, durante o curto reinado de Afonso VI. Assim, em cumprimento às ordens reais, o Conde de Óbidos, vice rei do Brasil, expedia o Alvará de 6 de julho de 1663 e seu Regimento de 7 de julho de 1663. Mandava o regimento revalidar a moeda portuguesa em 25%, ordenando a carimbagem dela aqui na colônia, em cumprimento ao alvará de Lisboa.
Quanto às moedas circulantes nas Conquistas, faz menção às patacas (grifos): Nas de prata, se abrirá o cunho, com valor, sem ter escudo, sobre as letras uma coroa, na forma seguinte: nos sellos que corriam a 480 réis, 600 ; nos cruzados 500; nos meio cruzados 250, nos meio sellos de 240, 300 réis; nas meia patacas 200, nas moedas de 120 réis, 150; nas de 100 réis, 125; nas de 80 réis, 100, nas de 60, 80, e nas que se acharem de 50 réis, 60, por se evitar nestas o prejuízo de não terem troco de outro modo.
Vê-se que o Alvará do Conde manda carimbar tudo que aqui circulava, as moedas portuguesas e a moeda da colônia, que consistia nas peças espanholas, carimbadas ou não, conforme os alvarás anteriores de 1643 (480 e 240 réis, respectivamente sobre 8 e 4 reales) e o de 1652 (120 e 60, respectivamente sobre 2 e 1 real). Assim, como moeda exclusivamente brasileira teríamos, portanto, os reales espanhóis carimbados. As moedas portuguesas, embora carimbadas e circulando também aqui, seriam, a rigor, moeda do reino.
Interessante ver as determinações do Conde de Óbidos quanto ao procedimento dessa carimbagem aqui no Brasil: Todo dinheiro de ouro e prata que houver nas capitanias da Bahia, Sergipe de El Rey, até o Rio São Francisco, Boipeba, Cairu, Camamú, Ilhéus e Porto Seguro inclusive, há de se vir receber novo cunho à officina desta cidade. Todo o que houver desde o Rio São Francisco, Lagoas (atual Alagoas), Pernambuco, Itamaracá, Parahiba, Rio Grande até o Ceará inclusive, há de se resellar na Casa dos Contos da Vila de Olinda (?).
Todo o da capitania do Espírito Santo, Parahiba, Cabo Frio, Rio de Janeiro, e mais logares ou villas que compreende a sua jurisdição, até confinar com a a Capitania de São Vicente, na Casa dos Contos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. E todo o das Villas de São Vicente, Santos, São Paulo, Parahiba, e mais logares que há naquela capitania, e fora della para o sul, na mesma casa donde costumam assistir os officiaes da Fazenda Real na Villa de São Vicente, e não sendo sufficiente, elegerá o provedor da Real Fazenda, com o capitão mor da mesma capitania, a que lhe parecer mais segura. (...)
Temos assim um retrato de onde se processou toda essa carimbagem no Brasil. Pessoalmente tenho dúvidas quanto a carimbagem na Villa dos Contos de Olinda. Olinda, até 1654, data da expulsão dos holandeses, era uma cidade arruinada. Por não poderem defendê-la, devido à sua posição geográfica, os holandeses incendiaram e demoliram a cidade. Assim, acho que a cunhagem dos carimbos deve ter se dado em Recife, cidade economicamente importante na época, ao contrário da destruída Olinda, em plena reconstrução.
Aliás, o Alvará do rei, para justificar a carimbagem, cita justamente a necessidade de defesa das terras brasileiras, que estariam na iminência de ser atacadas novamente. Era de fato a ameaça de uma nova invasão holandesa, que mesmo após a expulsão, não aceitavam a derrota, e pediam indenizações pesadas, chegando mesmo a bloquear o porto de Lisboa e saquear a esquadra vinda do Brasil, em 1657. O próprio Conde Nassau, figura tão famosa na conquista anterior, teria sido sondado novamente, mas não aceitou capitanear uma nova invasão com as condições a ele oferecidas.
Dos 25% valorados, cinco por cento seriam do dono da moeda, e 20% seriam recolhidos à Coroa, para fazer frente as ditas despesas com a defesa. Também seria uma medida para impedira a saída do numerário de metal precioso do reino e das colônias para o estrangeiro.
Analisando a data da peça em questão, 1671, podemos supor que essa carimbagem (ao menos no tocante às moedas "brasileiras) tenha continuado, de fato, até a expedição do Alvará de 23 de março de 1683, quando as moedas espanholas circulantes por cá foram revalidadas em 640, 320, 160 e 80 réis (8, 4, 2 reais e 1 real, respectivamente)
Um prazer estudar um pouco essas histórias e ler os alvarás, vendo nomes de velhas localidades tão familiares a mim atualmente!
600 reis coroados sobre Cob de 8 reales, tipo com colunas.
Bolívia Colonial
Potosi
1671 P - E
prata
25,1 gramas
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A peça está em boas condições embora tenha alguma corrosão marinha. O carimbo é dos bons! A moeda tem um "plus", pois apresenta datação da base, e duas vezes, pois pode ser vista a data 1671 nos dois lados, além da letra do ensaiador, a conjunção de todas essas informações e do carimbo não é algo muito fácil de ver!
Como se sabe esse carimbo foi ordenado pelo Alvará do Reino de 22 de março de 1663, durante o curto reinado de Afonso VI. Assim, em cumprimento às ordens reais, o Conde de Óbidos, vice rei do Brasil, expedia o Alvará de 6 de julho de 1663 e seu Regimento de 7 de julho de 1663. Mandava o regimento revalidar a moeda portuguesa em 25%, ordenando a carimbagem dela aqui na colônia, em cumprimento ao alvará de Lisboa.
Quanto às moedas circulantes nas Conquistas, faz menção às patacas (grifos): Nas de prata, se abrirá o cunho, com valor, sem ter escudo, sobre as letras uma coroa, na forma seguinte: nos sellos que corriam a 480 réis, 600 ; nos cruzados 500; nos meio cruzados 250, nos meio sellos de 240, 300 réis; nas meia patacas 200, nas moedas de 120 réis, 150; nas de 100 réis, 125; nas de 80 réis, 100, nas de 60, 80, e nas que se acharem de 50 réis, 60, por se evitar nestas o prejuízo de não terem troco de outro modo.
Vê-se que o Alvará do Conde manda carimbar tudo que aqui circulava, as moedas portuguesas e a moeda da colônia, que consistia nas peças espanholas, carimbadas ou não, conforme os alvarás anteriores de 1643 (480 e 240 réis, respectivamente sobre 8 e 4 reales) e o de 1652 (120 e 60, respectivamente sobre 2 e 1 real). Assim, como moeda exclusivamente brasileira teríamos, portanto, os reales espanhóis carimbados. As moedas portuguesas, embora carimbadas e circulando também aqui, seriam, a rigor, moeda do reino.
Interessante ver as determinações do Conde de Óbidos quanto ao procedimento dessa carimbagem aqui no Brasil: Todo dinheiro de ouro e prata que houver nas capitanias da Bahia, Sergipe de El Rey, até o Rio São Francisco, Boipeba, Cairu, Camamú, Ilhéus e Porto Seguro inclusive, há de se vir receber novo cunho à officina desta cidade. Todo o que houver desde o Rio São Francisco, Lagoas (atual Alagoas), Pernambuco, Itamaracá, Parahiba, Rio Grande até o Ceará inclusive, há de se resellar na Casa dos Contos da Vila de Olinda (?).
Todo o da capitania do Espírito Santo, Parahiba, Cabo Frio, Rio de Janeiro, e mais logares ou villas que compreende a sua jurisdição, até confinar com a a Capitania de São Vicente, na Casa dos Contos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. E todo o das Villas de São Vicente, Santos, São Paulo, Parahiba, e mais logares que há naquela capitania, e fora della para o sul, na mesma casa donde costumam assistir os officiaes da Fazenda Real na Villa de São Vicente, e não sendo sufficiente, elegerá o provedor da Real Fazenda, com o capitão mor da mesma capitania, a que lhe parecer mais segura. (...)
Temos assim um retrato de onde se processou toda essa carimbagem no Brasil. Pessoalmente tenho dúvidas quanto a carimbagem na Villa dos Contos de Olinda. Olinda, até 1654, data da expulsão dos holandeses, era uma cidade arruinada. Por não poderem defendê-la, devido à sua posição geográfica, os holandeses incendiaram e demoliram a cidade. Assim, acho que a cunhagem dos carimbos deve ter se dado em Recife, cidade economicamente importante na época, ao contrário da destruída Olinda, em plena reconstrução.
Aliás, o Alvará do rei, para justificar a carimbagem, cita justamente a necessidade de defesa das terras brasileiras, que estariam na iminência de ser atacadas novamente. Era de fato a ameaça de uma nova invasão holandesa, que mesmo após a expulsão, não aceitavam a derrota, e pediam indenizações pesadas, chegando mesmo a bloquear o porto de Lisboa e saquear a esquadra vinda do Brasil, em 1657. O próprio Conde Nassau, figura tão famosa na conquista anterior, teria sido sondado novamente, mas não aceitou capitanear uma nova invasão com as condições a ele oferecidas.
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- doliveirarod
- Reinado D.Afonso Henriques
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Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Mais uma, essa com a base mexicana, características "sea salvage", ou seja, resgate de naufrágio:
22,3 gramas, perdeu massa com a corrosão. A crosta está muito firme, não ouso nem arrisco mexer mais nela.
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Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Parabéns pela moeda, caro Fabiano! As macuquinas são um pedaço da história mundial. Ajudam a entender o que foi a economia global entre os séculos XVI e XIX e são muitas vezes encontradas em museus, justamente como peças resgatadas de navios naufragados. É uma moeda icônica e com muitas variantes ao longo do tempo em que foi cunhada. 

- silvio2
- Reinado D.Afonso Henriques
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Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Mais dois exemplares dignos de nota, sim senhor ...
Obrigado, caro Fabiano pela partilha não só, de tão interessantes exemplares mas, também, da informação contextualizando as "suas histórias de vida".

Obrigado, caro Fabiano pela partilha não só, de tão interessantes exemplares mas, também, da informação contextualizando as "suas histórias de vida".

Cumprimentos,
Sílvio Silva
Sílvio Silva
Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Texto e moeda muito interessantes. Obrigado por partilhar, Fabiano.
Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
Tenho esta que pesa 22 gramas. Qual é a moeda base?


- doliveirarod
- Reinado D.Afonso Henriques
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Re: 600 réis - Carimbo de 1663 sobre Macuquina, uns apontamentos.
É uma base semelhante a da primeira foto que postei, 8 reales Potosi, está um tanto corroída, mas parece ser a 1654 - E.
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