O "encilhamento" foi uma grande "bolha" econômica, iniciada no governo da República, com o Marechal Deodoro da Fonseca, cujo exponte maior foi o ministro da Fazenda Rui Barbosa (um dos mais notáveis escritores brasileiros), que no estourar da crise, no fim do séc. XIX, teve que "fugir" para a França.
Com a mudança do Império para a República e os desajustes decorrentes, havia no Brasil uma falta de dinheiro circulante, pois o Império tinha a moeda lastreada no padrão ouro.
Assim, para tentar resolver o problema, numa tentativa de se financiar a industrialização do país, até então predominantemente agrário, surge a política do "dinheiro barato", estimulando-se a emissão de papel moeda.
O projeto criou no país três regiões bancárias, que foram autorizadas a emitir dinheiro. A garantia dessas emissões eram Títulos da Dívida Pública (TDPs). Ocorre que o governo acabou autorizando bancos a emitir papel, e foi jogado no mercado uma quantidade de dinheiro superior à produção econômica e à necessidade do país.
A consequência principal foi uma queda brusca no valor dos TDPs e uma inflação galopante, que desvalorizou o então forte padrão mil-réis brasileiro.
Após o desastre econômico gerado, as séries brasileiras posteriores, em metal precioso, foram emitidas já sentindo os efeitos da grave desvalorização do padrão mil-réis.
AS PRIMEIRAS EMISSÕES.
Com a crise do início do séc. XX, devido à mencionada desvalorização do padrão mil-réis no Brasil, o país abandonava o velho padrão da "coroa" (2000 réis com 25 gramas de prata, o equivalente a 5 francos franceses, ou a mil réis portugueses, por exemplo). A Lei 1.453 de 30 de dezembro 1905 desmonetizava as velhas moedas de prata com a liga 0,916 até então utilizada, desde a colônia, criando a nova liga de 0,900 para as moedas de 500, 1.000 e 2.000 réis.
Assim, em 1906, entrava em cena o novo padrão desvalorizado do 2000 réis com 20 (XX) gramas de prata 0,900, perdendo a moeda cerca de 1/5 de seu peso em metal precioso:
Nesse passo, verifica-se que, embora menores, as moedas ainda preservaram uma boa liga, e ainda eram bem interessantes!Art. 30. As moedas de prata que se cunharem de ora em diante terão o valor, peso, titulo e modulos seguintes:
Valor em réis - Peso - Titulo - Módulo
2$000 - 20,000 - 900 - 33
1$000 - 10,000 - 900 - 26
$500 - 5,000 - 900 - 22
§ 1º A tolerancia para mais ou para menos no peso das referidas moedas será de 1 decigramma para as de 2$, de 5 centigrammas para as de 1$ e de 25 milligrammas para as de $500; o da composição da liga monetaria será de 2 millesimos para mais ou para menos.
§ 2º As moedas de que trata o art. 1º terão no anverso a effigie da Republica com o barrete phrygio, a éra do cunho no enxergo, e a inscripção: Republica dos Estados Unidos do Brazil; e no reverso, em algarismos romanos, o peso de cada moeda, o seu valor respectivo e a inscripção Ordem e Progresso e 15 de novembro de 1889.
§ 3º As moedas de prata não serão admittidas nem na receita e despeza das estações publicas, nem nos pagamentos particulares (salvo o caso de mutuo consentimento destes) sinão até a quantia de 20$ (decreto n. 625, de 28 de julho de 1840, art. 2º)46, quanto ás moedas de 2$ e 1$, e até 10$, quanto ás moedas de 500 réis.
§ 4º As moedas do titulo de 917 serão desmonetizadas e recunhadas de accordo com as disposições do art. 6º e § 1º.
O cunho da prata dos particulares será regulado pelo art. 4º da lei n. 1083, de 22 de agosto de 186047, marcando o Governo o quantum da senhoriagem, conforme estiverem a taxa cambial e o preço da prata.
As novas séries desvalorizadas tiveram início em 1906, sendo cunhada moedas nesse designer até 1912, quando foi substituída por uma outra série de designer diferente.
Conforme a legislação supra mencionada, as peças teriam a efígie da República com o barrete frígio, o valor facial, o peso em algarismos romanos, as inscrições "REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL" (Brasil com "Z") e "ORDEM E PROGRESSO" e "15 de NOVEMBRO DE 1889".
Entretanto, basta olhar o resultado para vermos que o nome do país, ao invés de BRAZIL, saiu no fim das contas "BRASIL", sendo, ainda, suprimida a inscrição 15 de NOVEMBRO DE 1889! Ei-las:
500 réis:
1906 - 352.000 exemplares
1907 - 1.282.000 exemplares
1908 - 498.000 exemplares (existe o Rev. invertido p/ a data)
1911 - 8.000 exemplares (escassa)
1912 - 2.000 exemplares (muito escassa)
KM - 15
1000 réis:
1906 - 420.000 exemplares (há a rara variante do "réiZ")
1907 - 1.939,000 exemplares (há o rev. Horizontal e o Invertido)
1908 - 1.624,000 exemplares
1909 - 816.000 exemplares (há a rara variante do "réiZ")
1910 - 2.354,000 exemplares
1911 - 2.810,000 exemplares
1912 - 528.000 exemplares
KM 16
2000 réis:
1906 - 256.000 exemplares (há o rev. Invertido,o horizontal e a variante do "O" aberto em "ORDEM")
1907 - 2.683,000 exemplares (há o rev. Invertido,o horizontal e a variante do "O" aberto em "ORDEM")
1908 - 1.707,000 exemplares (há o rev. Invertido,o horizontal)
1910 - 584.500 exemplares
1911 - 1.928,500 exemplares (há o rev. invertido)
1912 - incerto
O "O" de "ORDEM" aberto está presente nas cunhagens de 1906 e 1907.
KM 17[/b]
AS ESTRELAS LIGADAS
Em 1912 houve uma mudança no designer das moedas. Surgiu aí a série que denominamos de "Estrelas Ligadas", pois as estrelas que ornamentam o busto são ligadas por pequenos traços. A lei 2544 de 4 de janeiro de 1912 autorizou essas novas cunhagens para facilitar o troco das notas de 5.000, 10.000 e 20.000:
A série nova teria como novidades, além das ditas estrelas ligadas, os ramos de café e tabaco ornamentando o valor e as armas da República. Foram emitidas mais moedas no valor de 500, 1000 e 2000 réis, todas cunhadas na Casa da Moeda do Brasil, no Rio de Janeiro.Art. 94. E' o Governo autorizado.
(...)
VI. 1º, a abrir creditos para cunhagem de moedas de prata, afim se substituir as cedulas do Thesouro Nacional do valor de 2$ e 1$ e facultar o troco das cédulas de 20$, de 10$ e de 5$, onde escassearem essas moedas; assim como a modificar cunho das moedas de prata;
Ei-las:
500 réis 1912 - 220.000 - KM 18
1000 réis 1912 - 1.042.000 - KM 19
2000 réis 1912 - 380.000 - KM 20
O peso e a liga de 0,900 continuaram inalterados, seguindo a lei anterior. Em 1913 ainda se bateram o 1000 e o 2000 réis da série estrelas ligadas:
1000 réis 1913 - 2.525,000 exemplares. KM 19
2000 réis 1913 - 398.000 exemplares. KM 20
AS ESTRELAS SOLTAS - CUNHAGEM ALEMÃ
Por fim, ainda em 1913, surge o último designer para esse padrão monetário, é a chamada série das "Estrelas Soltas", visto que as estrelas que ornamentam o busto não têm mais os pequenos traços, estão "soltas". As moedas "estrelas soltas" foram batidas nos três valores: 500, 1000 e 2000 réis. Trazem no exergo do reverso a letra "A", que indica a casa da moeda de Berlim. Foram fabricadas pela firma Victor Uslaender e Cia, filiada ao Deustche Bank. Curiosidade é o nome "BRAZIL", que passa a ser escrito com "Z", FINALMENTE de acordo com a lei de 1905!
Após essa bela série, o país já começava a sentir muito mais seriamente a política da desvalorização do padrão mil-réis, e o bom peso e liga das moedas foi sendo progressivamente abandonado. Vamos a ela:
500 réis 1913A - quantidade incerta. KM 21
1000 réis 1913A - quantidade incerta. KM 22
2000 réis 1913A - quantidade incerta. KM 23