IMP BIZANTINO - Solidus de ouro - Heraclius

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doliveirarod
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IMP BIZANTINO - Solidus de ouro - Heraclius

#1 Mensagem por doliveirarod » domingo nov 22, 2009 9:56 pm

A figura de um importante imperador na história bizantina. Heraclius Augustus conseguiu retirar o restante do império romano da beira da destruição:

Imagem

Solidus de ouro do Império Bizantino, imperador Heraclius Augustus, cerca de 639/641 DC.
Rev: Cruz potentada em altar de 4 degraus. "VICTORIA - AVGY Δ". Exergo: "CONOB" - "COnstantinopla OBryzum" - "Casa de Constantinopla" e "ouro puro"
Verso: Heraclius entre seus filhos: Heraclonas e Heraclius Constantino. Cada um portando um globo crucífero.
Sear 764
Peso: 4.5 gramas de ouro 22K


Heraclius era filho de Heraclius o "Velho", um general do imperador Maurice Tiberius. No ano de 608, "o Velho" renunciou sua lealdade ao Imperador Phocas, que tinha destronado Maurice 6 anos antes.

Os rebeldes emitiram moedas mostrando os Heraclius vestidos como consules, ainda sob o reinado de Phocas.
Atráves de algumas campanhas bem sucedidas, se aproximam de Constantinopla, onde travam contato com as principais lideranças rebeladas, derrotando a aristocracia e tomando de vez a cidade.
Phocas é aprisionado e levado perante o já coroado Heraclius, que lhe indaga: "É assim que você governa, infeliz?" No que aquele responde: "Por acaso tens tu regrado melhor?". Irritado, Heraclius corta fora a cabeça de Phocas, mandando depois castrar seu corpo, fazendo justiça a um estupro cometido pelo imperador deposto contra a mulher de Photius, um poderoso político.

Coroado pela segunda vez em 610, casa-se com Eudóxia, e com a morte desta, com Martina, sua própria sobrinha, o que lhe trouxe problemas, pois o casamento era considerado incestuoso.

Heraclius herdou uma crise no Império. O imperador Cosroes II da Pérsia tinha invadido a província da Mesopotâmia, pertencente ao império bizantino do oriente. O persa tinha sido reposto no trono pelo imperador Maurice Tiberius, e quando esse foi assassinado por Phocas, surgiu o pretexto para a invasão das províncias romanas orientais. Cosroes queria impor à Bizancio um imperador que dizia ser filho de seu antigo aliado, Maurice Tiberius.

Enquanto durou a guerra civil entre Phocas e Heraclius, os persas ganharam terreno. Tinham conquistado a Mesopotâmia inteira, entrado no Cáucaso, Síria e Anatólia. Um contra-ataque liderado por Heraclius não obteve sucesso, e a posição romana no oriente começa a ruir.Os persas tomam a Calcedônia e invadem a Ásia Menor, chegando às terras do Egito e Palestina. Em 613 tomam Damasco, e em 614, com a ajuda dos judeus, conquistam Jerusalém. Na Europa, os Avaros e Eslavos aproveitam a situação para tomar os Balcãs. O quadro era de decadência, e o império bizantino encontrava-se assim à beira do colapso geral.

Com os persas quase nos portões de Constantinopla, Heraclius pensa em abandonar a cidade, transportando a capital para Cartago, no que é dissuadido pelo patriarca Sergius.

Seguro por trás dos muros de Constantinopla, ele foi capaz de buscar a paz em troca de um tributo anual de mil talentos de ouro, mil talentos de prata, um milhar de túnicas de seda, mil cavalos, e mil virgens( :D ) para o rei persa. A paz permitiu a Heráclio reconstruir seu exército, cortando despesas não-militares. Desvalorizou a moeda bizantina, diminuindo a liga da prata drasticamente. Com o apoio do Patriarca Sérgio, tesouros da Igreja serviram para angariar os fundos necessários para continuar a guerra.

Em 622 Heraclius chega com um exército à devastada Ásia Menor, disposto a recuperar o império, lançando-se numa guerra santa total contra os persas, na qual o estandarte era uma imagem de Cristo.

Em 624 recupera o Cáucaso, impondo grandes derrotas aos persas. Na Europa os Avaros e Eslavos auxiliados pelos persas não conseguem adentrar em Constantinopla, tendo o cerco insucesso.

Após sucessivas vitórias, Heraclius recupera a Mesopotâmia, e chega quase às portas do palácio de Cosroes II, que diante da catástrofe iminente, foi derrubado e morto por seu filho Khavad II, que acordou a devolução de todos os territórios tomados aos bizantinos.

Em 629, Heraclius entra em Jerusalém numa majestosa cerimônia.

Heráclius tomou para si o antigo título persa de "Rei dos Reis", após sua vitória sobre a Pérsia. Mais tarde, a partir de 629, ele denominou-se como Basileus, a palavra grega para "soberano", título usado pelos imperadores bizantinos perante os próximos 800 anos.

Depois desse golpe, o império persa nunca mais se recuperou, estando pronto, portanto, para ser conquistado e convertido ao Islã, que séculos mais tarde, viria a destruir definitivamente bizâncio.

Foi esse imperador que substituiu de vez o latim pelo grego no uso oficial do império bizantino.


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jfialho
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#2 Mensagem por jfialho » domingo nov 22, 2009 10:23 pm

Belíssima moeda acompanhada de belíssima descrição.Obrigado Fabiano pelos seus ensinamentos.
.............
jfialho :thumbs:
jfialho

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josape
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#3 Mensagem por josape » domingo nov 22, 2009 10:46 pm

Mais uma bela moeda e uma boa lição. Obrigado Fabiano.
José Pereira

Antoniocoins
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#4 Mensagem por Antoniocoins » domingo nov 22, 2009 11:37 pm

excelente :clap3:

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EUROESCUDO
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#5 Mensagem por EUROESCUDO » domingo nov 22, 2009 11:59 pm

É um encanto... Cada vez mais desperta estes temas com história anexa!

Bonita Moeda e uma descrição inabdicável na Numismática :thumbs:
C/ Melhores cumprimentos:
M E N D E S
€uroe$cudo

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A.Teixeira
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#6 Mensagem por A.Teixeira » segunda nov 23, 2009 10:57 am

Linda mesmo, obrigado
Cumprimentos

Alexandre Teixeira

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MiguelCosta
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Re: IMP BIZANTINO - Solidus de ouro - Heraclius

#7 Mensagem por MiguelCosta » segunda nov 23, 2009 11:25 am

Lindo Ouro do Rei dos Reis...! :clap3: :clap3: :clap3:

Miguel Costa
Os grandes homens não nasceram na grandeza, engrandeceram.

jcarlos
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Re: IMP BIZANTINO - Solidus de ouro - Heraclius

#8 Mensagem por jcarlos » terça nov 24, 2009 10:53 pm

Lindíssima moeda! E um excelente texto. Parabéns! :green:

RuiAMF
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#9 Mensagem por RuiAMF » terça dez 29, 2009 4:58 pm

Mais uma bela moeda e uma boa lição de História Universal.
Pena tenho eu de não ter tempo para acompanhar mais o Fórum e de partilhar mais conhecimentos com todos os companheiros "foristas" mas a vida profissional ainda não me permite!...
Obrigado amigo Fabiano. :beer:

gcz
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Re: IMP BIZANTINO - Solidus de ouro - Heraclius

#10 Mensagem por gcz » domingo fev 14, 2010 4:07 pm

Obrigado pela historia e pelas imagems, e se me perimitirem eu gostava de acrescentar algumas coisas. Heraclio foi provavelmente o melhor general bizantinho de sempre. O império sassânina atacou Bizâncio num período de grande fraqueza do império bizantino, e coordenado com os ávaros que tinham vindo a ocupar os Balcãs. O ataque sassânica inicial tinha sido contra a síria, e cortado o império ao meio. A Palestina e o Egipto foram ocupados facilmente, porque devido às (quase constantes!) disputas religiosas bizantinas grande parte da população local estava contra o império.
doliveirarod Escreveu:Seguro por trás dos muros de Constantinopla, ele foi capaz de buscar a paz em troca de um tributo anual de mil talentos de ouro, mil talentos de prata, um milhar de túnicas de seda, mil cavalos, e mil virgens( :D ) para o rei persa. A paz permitiu a Heráclio reconstruir seu exército, cortando despesas não-militares. Desvalorizou a moeda bizantina, diminuindo a liga da prata drasticamente. Com o apoio do Patriarca Sérgio, tesouros da Igreja serviram para angariar os fundos necessários para continuar a guerra.
Foi oferecido tributo aos Ávaros, que de qualquer forma iriam trair a paz assim comprada imediatamente. Fizeram o primeiro assalto de exérictos estrangeiros a Constantinopla, e ameacaram também a segunda cidade do império, Tessalónica, mas as muralhas destas cidades eram formidáveis e os ávaros limitaram-se a saquear campos e cidades menores. Nunca tinha ouvido algo sobre tributo pago à pérsia, naõs ei se terá havido mas não houve pausa nas operações militares.
doliveirarod Escreveu:Em 622 Heraclius chega com um exército à devastada Ásia Menor, disposto a recuperar o império, lançando-se numa guerra santa total contra os persas, na qual o estandarte era uma imagem de Cristo.
Realmente o saque se Jerusalem pelos sassânidas foi um grande erro político deles!
Na realidade, e aqui começou a mostrar-se o génio militar de Heraclio, o imperador bizantino não levou o seu exército para a Ásia Menor mas sim por mar para junto do local onde séculos antes Alexandre tinha praticamente selado o destino de outro império persa, Issos, entre a Síria e a Ásia Menor. Da mesma forma que Dario III forçou Alexandre a combater aí porque deixar um exército inimigo atrás neste local ameaçava as linhas de comunicação dele com a grécia, da mesma forma que os sassânicas apontaram aí também para dividir o império bizantino dutante a invasão, Heraclio sabia que ao ocupar esta posição cortava as linhas do exérito sassânida que ocupava Calcedónia e ameaçava Constantinopla, e forçava uma reacção sassânida. A partir daí, e mesmo em inferioridade numérica, derrotou um a um vários exércitos sassânidas.

Depois ambos os soberanos tentaram colocar em prática a mesma estratégia que Cipião usara contra Cartago na 2ª guerra púnica: com a capital ameaçada, ameaçavam por sua vez a capital inimiga para tentar forçar o exército que cercava a sua retirar em defesa da própria capital. Os persas puderam fazê-lo primeiro, com um assalto a Constantinopla, em conjunto com os ávaros, que naturalmente falhou - ainda hoje as muralhas da cidade impressionam.

Depois a situação inverteu-se: Heraclio não tinha retirado e marchou sobre Ctesiphon, a nova capital sassânida. O estado sassânica quase se desintegou quando o rei caiu em desgralça após tantas derrotas, e foi forçado a aceitar a paz imposta por Heraclio. Por essa altura os sassânidas tinham perdido as suas melhores tropas e generais, e caia também para um novo poder o estado tributário árabe que protegia o sul do iraque das incurões vindas da peninsula arábica. Estava aberto o caminho à entrada em palco de outro povo... Heraclio já não viveria tempo suficiente para liderar tropas pessoalmente contra essa nova ameaça ao império, e não teve sucessor à altura.

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