Panamá - O Balboa

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doliveirarod
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Panamá - O Balboa

#1 Mensagem por doliveirarod » sábado nov 25, 2017 3:41 am

panama.jpg
O PANAMÁ - Surgimento; Com a Independências das colônias espanholas, as terras que hoje são do Panamá passam a integrar a Grande Colômbia, de Simon Bolívar, juntamente com a Venezuela, Colômbia e Equador. Com a posterior separação do território em países, o Panamá acabou integrado à Colômbia, como "Departamento do Panamá".

Os EUA, potência emergente das Américas, não tardaram a cobiçar a região, de grande interesse estratégico. Em 1846, assinou-se um tratado entre a Colômbia e os Estados Unidos para a construção da ferrovia interoceânica, garantindo-se neutralidade e livre trânsito. O descobrimento de ouro na Califórnia, em 1849, valorizou mais ainda o papel do istmo como via de comunicação marítima entre as costas oriental e ocidental dos Estados Unidos.
Em 1880 iniciam-se as obras para a construção de um canal no istmo do Panamá. A companhia encarregada do vultoso empreendimento, de capital majoritariamente francês, interrompeu os trabalhos em 1889 e, em 1898, a obra foi definitivamente paralisada. Os EUA entraram então em negociações com a Colômbia para concluir a construção, propondo um tratado provisório que nunca chegou a ser ratificado pelo Senado colombiano, o que atrapalhava os interesses americanos na região.
Em 3 de novembro de 1903, um movimento separatista (fomentado pelos EUA) proclamou a independência do Panamá face à Colômbia. Os EUA reconhecem imediatamente o novo Estado e o apóiam, enviando forças navais que impediram a chegada de tropas colombianas para sufocar a rebelião. Apenas quinze dias depois, com a rápida derrota das tropas colombianas, foi firmado o Tratado Hay-Bunau-Varilla, ratificado pelo governo provisório do Panamá, concedendo aos EUA o uso, controle e ocupação perpétua da Zona do Canal, uma faixa de 16 km de largura através do istmo. Em 1904 reiniciaram-se as obras. O canal só foi aberto oficialmente ao tráfego em 15 de agosto de 1914.
Em 1904 criou-se a Constituição do Panamá, que autorizava a intervenção das forças armadas norte-americanas no "país" em caso de desordens públicas, o que, na prática, equivalia à instauração de um protetorado, ou mesmo de uma nova "colônia" no continente sul, pois o Panamá, na prática, não teria soberania. O dólar tem livre circulação, embora haja uma moeda oficial.

A NUMÁRIA:

O primeiro presidente do país, Manuel Guerrero, edita a lei 84 de 28 de junho de 1904, criando o Balboa. Já em dezembro do mesmo ano, firma-se com os EUA um convênio monetário.

Assim, em junho de 1904, autoriza-se a cunhagem, nos EUA, de 3.000.000,00 de "pesos", em moedas de prata fracionárias, com liga 0,900.

A prata utilizada nessas cunhagens foi procedente da recolha das moedas colombianas que se achavam no território panamenho quando da independência, essas peças foram calculadas em quantia superior a três milhões de pesos colombianos. Conforme o tratado, esses pesos em prata, após recolhidos, foram enviados para Nova Iorque, em cerca de 5 remessas, e lá foram fundidos, descontando-se o lucro dos americanos no tocante à cunhagem.

A nova moeda de Balboa teria o teórico de 1 grama e seiscentos e setenta e duas miligramas de ouro de liga 0,900, e seria dividida em 100 centésimos.

Nascia o novo "Peso" do Panamá, ou seja, o Balboa. Cada "Peso" valeria meio Balboa. Foram autorizadas pela lei a emissão. em 1904, de moedas de prata de liga 0,900 de; 50 centésimos de Balboa (25 gramas - 1 Peso ), 25 centésimos de Balboa (12, 5 gramas - 1/2 Peso), dez centésimos de Balboa (5 gramas - 1/5 de Peso), cinco centésimos de Balboa (2,5 gramas - 1/10 de Peso), 2 1/2 centésimos de Balboa (1,4 gramas - 1/20 de Peso).

Essas peças foram batidas por 66 pares de cunhos abertos por Charles Barber, gravador da Casa da Moeda da Filadélfia.

Nesse passo, proibiram a circulação do dinheiro colombiano no território nacional, sendo ali aceites oficialmente apenas a moeda de prata nacional e o dólar de ouro americano (e suas divisionárias em prata). O governo panamenho deu lastro à moeda, depositando em instituição bancária americana uma soma de ouro equivalente a 15% do total da emissão, garantindo a paridade das moedas de prata com o que seria equivalente em ouro.

Vamos a essa bela série, todas as peças trazem o busto do colonizador Vasco Nunez de Balboa, as armas nacionais, data, valor facial, peso e liga do metal:


vbalb.jpg
2 1/2 centésimos de Balboa - 1/20 de "peso". (Essa é a famosa "Panamá pill" ou "pílula do Panamá", devido ao seu reduzido diâmetro e pequeno peso, que a deixam parecida com uma pílula)
1, 25 gramas - 1904
KM 5


Datas e quantidades:
1904 - 400.000


dbalb.jpg
5 centésimos de Balboa - 1904 - 1/10 de "Peso".
2,50 gramas
KM 6


Datas e quantidades:
1904 - 1.500.000
1916 - 100.000


qbalb.jpg
10 centésimos de Balboa - 1904 - 1/5 de "Peso".
5,00 gramas
KM 7


Datas e quantidades:
1904 - 1.100.000


mbalb.jpg
25 centésimos de Balboa - 1904 - 1/2 "Peso".
12,50 gramas
KM 8


Datas e quantidades:
1904 - 1.600.000

balboa.jpg
50 centésimos de Balboa - 1905 (existe a 1904) - 1 "Peso".
25 gramas
KM 9


Datas e quantidades:
1904 - 1.800,000
1905 - 1.000,000



Devido à alta do valor da prata no mercado internacional, por conta da guerra, o governo nacional aceita a petição do governo da Zona do Canal (sob controle americano), e determina a desmonetarização desse primeiro padrão Balboa/Peso, forte ante o dólar. Então, em junho de 1917, resta aprovada a mencionada desmonetarização, autorizando-se a exportação de quase um milhão de moedas de prata de meio e um peso para os EUA. Cria-se, a partir de então, uma paridade entre a moeda americana e a panamenha, de 1 para 1. A moeda de prata de Balboa passará a ter exatamente o mesmo peso e a mesma liga do Dólar Americano.

AS NOVAS MOEDAS

As primeiras peças de Balboa padrão Dólar surgiram em 1930, tendo o reverso gravado por William Clark Noble, e o verso por Robert Lewis.

Todas elas trazem o busto de Vasco Nunez de Balboa, com couraça e morrião, valor facial, armas nacionais, valor facial, peso e liga. Observa-se que são exatamente a mesma coisa do padrão americano. Também foram batidas nos EUA:

As peças foram feitas em prata 0,900 de 1930 até 1962. De 1966 até 1972, devido à alta internacional do metal, emitiram-se 1/2 balboas de prata 0,400 (núcleo de cobre, tal como os half dolars americanos desvalorizados da mesma época), os valores menores já em mera liga de cobre/níquel. A última moeda de Balboa de boa liga sai em 1966 (após, só em proof).

dbbalb.jpg
1/10 de Balboa
Prata 0,900
2,50 gramas

Datas e quantidades:
1930 - 500.000,000
1931 - 200.000
1932 - 150.000
1933 - 100.000
1934 - 75.000
1947 - 1.000,000
1953 - 3.300,000 (50 anos da República)
1961 - 2.500,000 (estilo diferente)
1962 - 5.000,000


qbbalb.jpg
1/4 de Balboa
Prata 0,900
6,25 gramas

1930 - 400.000,000
1931 - 48.000
1932 - 126.000
1933 - 120.000
1934 - 90.000
1947 - 700,000
1953 - 1.200,000 (50 anos da República)
1961 - 2.000,000 (estilo diferente)
1962 - 4.000,000


mbbalb.jpg
1/2 Balboa
Prata
0,900
12,5 gramas

1930 - 300.000,000
1932 - 63.000
1933 - 120.000
1934 - 90.000
1947 - 450,000
1953 - 600.000 (50 anos da República)
1961 - 350.000 (estilo diferente)
1962 - 700,000


bbalb.jpg
1 Balboa
Prata
0,900
26,7 gramas

1931 - 200.000
1934 - 225.000
1947 - 500,000
1953 - 50.000 (50 anos da República)
1966 - 240.000


A série com esse famoso designer se encerra em 1980, definitivamente, já então cunhada em liga de cobre/níquel e apenas nos valores de 1/2 balboa para baixo.

A EFÍGIE:
Vasco_Nuñez_de_Balboa_(1475-1517)_-_Anónimo.jpg
- VASCO NUNEZ DE BALBOA; nascido em Jerez de los Caballeros, Badajoz, em 1519. De origem galega e de linhagem incerta, é provável que tenha sido filho do fidalgo Nuño Arias de Balboa e de uma dama de Badajoz, a família era empobrecida, mas com tradição militar. Iniciou sua carreira como pajem do Señor de Moguer, Dom Pedro de Portocarrero. Com 26 anos integrou-se à expedição de Rodrigo de Bástidas (fugindo de credores, Balboa ao que parece tinha alguns problemas com dívidas...) através das ilhas do Caribe e territórios que pertencem hoje à atual Colombia (Santa Marta, Cartagena e golfo de Urabá ou " Darién " na Colômbia). Participou da fundação de Santa María de la Antigua, a primeira cidade fundada no continente americano, quando então, foi nomeado governador e capitão-geral de Darién, pelo rei espanhol Fernando o Católico.
No intuito de descobrir o mar de que falavam os indígenas locais, seguiu continente adentro em 25 de setembro de 1513, numa jornada de mais de 30 dias que terminou em um dos maiores feitos da conquista espanhola na América, o descobrimento do "Mar del Sur", nome que deram ao atual Oceano Pacífico, do qual "tomou posse" em nome da Espanha.
Conquistador ambicioso e muitas vezes cruel em seus métodos, acabou por gerar muitas intrigas políticas. O rei Fernando da Espanha enviou Pedrarias Dávila a Darién (1514), para substituí-lo no governo.
Quando Balboa voltou de uma viagem de exploração do golfo de San Miguel (1517-1518), Pedrarias, temendo uma sublevação, ordenou sua prisão. Julgado como traidor, Pedrarias o acusou conspirar contra a Coroa Espanhola. Acabou condenado e foi decapitado em Acla, Darién, pondo fim às aspirações conquistadoras de um dos mais importantes personagens daquele momento na história americana.
Não tem Permissão para ver os ficheiros anexados nesta mensagem.


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soga80
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Re: Panamá - O Balboa

#2 Mensagem por soga80 » sexta dez 08, 2017 5:16 pm

Todas as informações muito boas... Obrigado por esta e todas as outras postagens ...

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doliveirarod
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Re: Panamá - O Balboa

#3 Mensagem por doliveirarod » segunda mar 30, 2020 4:50 am

Consertado.
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Pedro Leg
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Re: Panamá - O Balboa

#4 Mensagem por Pedro Leg » segunda mar 30, 2020 6:04 am

Excelente trabalho. Muito obrigado caro Doliveirarod.
Pensamento Livre

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silvio2
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Re: Panamá - O Balboa

#5 Mensagem por silvio2 » segunda mar 30, 2020 9:07 am

Excelente contextualização histórica e numismática, sobre a emissão destas bonitas moedas. :D :clap3:
Obrigado, caro Fabiano, por mais este apontamento. :thumbupleft:
Cumprimentos,
Sílvio Silva

Rodrigues
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Registado: sábado nov 17, 2018 1:30 pm

Re: Panamá - O Balboa

#6 Mensagem por Rodrigues » segunda mar 30, 2020 8:47 pm

Uma coleção muito interessante! Belas moedas! Além disso, o tópico traz informações importantes sobre as peças e o contexto histórico do indivíduo retratado. Parabéns! :thumbupleft:

pmborges
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Re: Panamá - O Balboa

#7 Mensagem por pmborges » segunda mar 30, 2020 9:17 pm

Tópico muito completo e com boas moedas. :thumbupleft:
Fiquei foi com uma dúvida ...
nascido em Jerez de los Caballeros, Badajoz, em 1519. De origem galega e de linhagem incerta, é provável que tenha sido filho do fidalgo Nuño Arias de Balboa e de uma dama de Badajoz, a família era empobrecida, mas com tradição militar.
Como é que se diz que ele é de origem galega (provincia espanhola a norte de Portugal) se nasceu na zona de badajoz e é de linhagem incerta? Será a familia dele ? :think:

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fernanrei
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Re: Panamá - O Balboa

#8 Mensagem por fernanrei » segunda mar 30, 2020 10:13 pm

É um bonito conjunto de moedas complementado pela excelente apresentação, merece ser relembrado. :thumbs:
"Quod erat demonstrandum"

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