Eritreia italiana - o Tallero.
- doliveirarod
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Eritreia italiana - o Tallero.
ERITREIA - Em tempos ancestrais os territórios da Etiópia e da Eritreia formavam o que bem mais tarde se viria a entender por Abissínia. No século VIII antes de Cristo, surge nessas terras uma civilização urbana, descendente do reino de Sabá. Derivado dessa civilização, no século VII, surge mais tarde o reino Axumita (Axum), que também ocuparia as terras que hoje pertencem aos mencionados dois países. Na região do Mar Vermelho, Axum era o reino mais importante, Aksum, sua capital (na atual Etiópia),era de grande importância, dominava o comércio naquelas partes do mundo, visto que era uma importante rota entre o Egito e a Índia, e cunhava sua própria moeda em cobre, ouro e prata.
Em 1137, morre o último rei axumita, e o império é conquistado pela dinastia Zagué, que mantém o cristianismo e as tradições dos axumitas. Em 1270 os Zagué são depostos por um rei que se dizia da descendente direto de Salomão, surgindo aí a dinastia Salomônica, governado pelos Habesha, nome do qual "Abissínia" derivaria.
Os Europeus entendiam como "Etiópia" todas as terras abaixo do Egito, sem fazer distinção de povo ou país, acreditando que por aquelas bandas se encontraria o Preste João, um riquíssimo rei branco cristão.
O islamismo começa a crescer na região e a ameaçar seriamente os abissínios cristãos. Os árabes e principalmente os otomanos vão se apoderando das áreas costeiras da Abissínia, obrigando os etíopes a ocuparem cada vez mais o interior e as áreas montanhosas. Durante o século XVI, os portugueses socorrem militarmente a Etiópia, com homens e armas, evitando que os otomanos tomassem toda a Abissínia.
Entretanto, os turcos estavam estabelecidos na costa desde 1578, nas terras da atual Eritreia, e lá permaneceram até meados do século XIX.
ERITREIA ITALIANA - Com a decadência otomana e a corrida colonial européia, a Itália, em busca de seu quinhão na África, começa a ocupar as terras da Eritreia em 1889, depois de firmar um tratado com o imperador da Etiópia, Menelik II. Nomeiam a sua nova colônia com o nome latino ancestral do mar vermelho; Mare Erythraeum. Em 1936, Mussolini invade e conquista a Etiópia, depois de o exercito italiano ter falhado em Adwa em 1896, então um grande vexame para as armas italianas. A Etiópia e a Eritreia são então unificadas sob uma única administração, incorporadas a África Oriental Italiana.
Com a derrota italiana na Segunda Guerra, em 1941, a Eritreia sai da órbita da Itália, tornando-se um protetorado britânico, enquanto a Etiópia é libertada e volta a ser governada por seu imperador, Hailé Salassié.
INDEPENDÊNCIA - Em 1952, a ONU determina que se estabeleça uma federação entre os países irmãos, Etiópia e Eritreia, sob o governo do imperador da primeira, Hailé Salassié, que, em 1961, extingue a federação, incorporando o território da Eritrea como província. Isso dá motivo para que se iniciem as guerras de independência, e, em 1991, a independência do território conseguida, sendo reconhecida a Eritreia como um país, pela ONU, em 1993.
A NUMÁRIA COLONIAL - Após a ocupação da terra em 1889, os italianos rapidamente providenciam uma moeda local para firmar soberania naquela que seria a sua primeira colônia, surge assim o tallero.
O nome "tallero" deriva de taler, pois era a moeda baseada no peso e na liga do taler de Maria Teresa ( viewtopic.php?f=61&t=118687 ), que, como se sabe, era a moeda de franca circulação por aquelas terras e pelo norte da África inteiro. O sistema era o da lira italiana, que por sua vez obedecia os ditames da União Monetária Latina: 100 centesimi = 1 lira. 5 lira = 1 tallero. Entretanto, o tallero (também chamado Riyal pela população local) tinha 28,12 gramas, pesava, portanto, 3,12 gramas a mais que a moeda de 5 liras metropolitana (25 gramas), o motivo era que precisava concorrer com os fortes e bem aceitos talers austríacos de Maria Teresa. Mesmo assim, parece que a moeda não foi bem aceite entre os nativos, que preferiam receber em talers conhecidos, o que levou as autoridades italianas a proibir a circulação dos talers de M. Teresa, de forma a forçar a circulação do tallero naquele território. O tallero e suas divisionárias circularam entre 1890 e 1921, sendo que a última moeda de prata foi cunhada em 1918.
Eis as peças:
50 centesimi
1890M (Milão)
Prata 0,835 - 2.5 gramas (teórico)
Ensaiador: Filippo Speranza (gravador chefe da Casa da Moeda de Roma)
KM 1
Rev: COLONIA ERITREA - C. 50. "1/10 de birr" em amárico - 1/10 de Riyal em árabe.
Verso: "HUMBERTO I RE D'ITALIA 1890" - Busto coroado do rei à direita.
Datas cunhadas:
1890M - 1.800,000 exemplares
1 Lira
1890R (Roma)
Prata 0,835 - 5 gramas (teórico)
Ensaiador: Filippo Speranza (gravador chefe da Casa da Moeda de Roma)
KM 2
Rev: COLONIA ERITREA - L. 1. "1/5 de birr" em amárico - 1/5 de Riyal em árabe.
Verso: "HUMBERTO I RE D'ITALIA 1890" - Busto coroado do rei à direita.
Datas cunhadas:
1890R - 598,000 exemplares
1891R - 2.401,000 exemplares
1896R - 1.500,000 exemplares
2 Lira
1890R (Roma)
Prata 0,835 - 10 gramas (teórico)
Ensaiador: Filippo Speranza (gravador chefe da Casa da Moeda de Roma)
KM 3
Rev: COLONIA ERITREA - L. 2. "2/5 de birr" em amárico - 2/5 de Riyal em árabe.
Verso: "HUMBERTO I RE D'ITALIA 1890" - Busto coroado do rei à direita.
Datas cunhadas:
1890R - 1000.000,000 exemplares
1896R - 750.000 exemplares
Tallero
1891R (Roma)
Prata 0,835 - 28,12 gramas (teórico)
Ensaiador: Filippo Speranza (gravador chefe da Casa da Moeda de Roma)
KM 4
Rev: COLONIA ERITREA - TALLERO - L.5. "1 birr" em amárico - "1 Riyal" em árabe.
Verso: "HUMBERTO I RE D'ITALIA 1891" - Busto coroado do rei à direita.
Datas cunhadas:
1891R - 196,000 exemplares
1896R - 200,000 exemplares
Tallero
1918R (Roma)
Prata 0,835 - 28,06 gramas (teórico)
Ensaiador: Atillio Silvio Motti
KM 5
Rev: AD.NEGOT.ERYTHR.COMMOD.ARG.SIGN.R - Águia e escudo da casa de savóia.
Verso: "REGNUM ITALICUM 1918" - busto feminino à direita.
Exergo: FERT FERT FERT
Datas cunhadas:
1918R - 510,000 exemplares
A última emissão considero especialmente bonita! Ela é inspirada no Tallero da República de Veneza, particularmente o tipo cunhado no fim do séc. XVIII.
Atenção!! Todos os tipos de talleros foram falsificados! Os chineses de primeira geração são fáceis de distinguir pelo peso, mas existem os feitos em prata boa, esse vão requerer maior atenção do colecionador, pois devem ser detectados pelos detalhes de relevo e rebordos.
Embora se possa perceber a grande cunhagem em geral, elas não são moedas fáceis, não aparecem, principalmente as datas de menor tiragem e os talleros. Isso leva a crer que boa parte delas deve ter sido destruída depois da desmonetarização em 1921.
A EFÍGIE:
Umberto I (casa de Savóia) era filho de Vítor Emanuel II, o rei da unificação italiana. Sua formação foi basicamente militar, iniciando a carreira como capitão e participando da guerra da unificação italiana em várias batalhas, algumas das quais teria se destacado. Assume o trono em 1878, com a morte de seu pai, e neste mesmo ano escapa da primeira tentativa de assassinato, por um anarquista. Anarquistas e socialistas iriam causar grandes revoltas em seu reinado, notadamente depois do massacre de Bava Beccaris (general), em Milão, onde trabalhadores protestavam pelo aumento de tributos e escassez de alimentos, quando foram vítimas de fogo de artilharia do exército, que teria matado ao menos 90 pessoas. Foi o rei responsável pela expansão colonial da Itália na África, tomando a Eritreia e a Somália, fracassando na tentativa de ocupar a Etiópia, depois da derrota em Adwa, em 1896. As tensões sociais, o anarquismo e a crescente expansão do socialismo marcaram profundamente sua época. Foi no meio desse caldeirão que, Benito Mussolini, um jovem jornalista, começou a sua atividade política. Segue a segunda tentativa de regicídio fracassada, em 1897.
Em 1900, o rei finalmente é assassinado, na terceira tentativa, pelas mãos de um anarquista, revoltado por ter perdido uma irmã no massacre de Milão. Leva três tiros em Monza, durante uma entrega de prêmios.
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"O colecionador é um homem mais feliz"
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- soga80
- Reinado D.Afonso Henriques
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Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Boas informações, bom post obrigado
- silvio2
- Reinado D.Afonso Henriques
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- Localização: Leiria (Distrito)
Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Excelentes moedas e magnífica lição de História!
Obrigado pela disponibilidade e partilha.
Obrigado pela disponibilidade e partilha.
Cumprimentos,
Sílvio Silva
Sílvio Silva
- AntonioMota
- Reinado D.Filipe III
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- Localização: Amarante / Celorico de Basto
Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Mais uma excelente lição de História.
Obrigado, caro Fabiano!
Obrigado, caro Fabiano!
Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Muito boas e muito difíceis de encontrar (e pagar!)
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- Reinado D.Dinis
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Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Muito parabéns pelas moedas e pela lição de história! Obrigado caro Fabiano.
Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Gratidão pelas fotos, e pela aula de História, nobre colega doliveirarod
Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Por razões profissionais vagueei por essa região (Corno de África) entre 1989/1990 e confirmo que nesta altura os taleres "Menelik" e "Maria Theresa 1780" (assim como moedas italianas em prata de 25 gr) eram ainda vistos nos mercados, pelo menos em Djibouti. Comprei alguns destes exemplares que citei e ainda algumas do imperador, ou Negus, Hailé Selassié. Resta saber se são verdadeiros ou copias.
Oportunamente mostrarei aqui fotos para tirar duvidas. Neste momento estou no estrangeiro, longe das minhas moedas.
Oportunamente mostrarei aqui fotos para tirar duvidas. Neste momento estou no estrangeiro, longe das minhas moedas.
Pensamento Livre
- doliveirarod
- Reinado D.Afonso Henriques
- Mensagens: 15237
- Registado: terça nov 09, 2004 2:50 am
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Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Cuidado, existem muitas falsificações. Mas se adquiriu na década de 80, realmente tem boas chances de serem autênticas, atente para o peso delas.
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Re: Eritreia italiana - o Tallero.
Este taler não é italiano mas circulava na Eritreia italiana e resto do Corno de Africa, Somalia, Etiopia, Djibouti...
Comprei-o no mercado indígena da cidade de Djibouti em 1989 ou 1990. 27.73 g e diâmetro 40 mm
Comprei-o no mercado indígena da cidade de Djibouti em 1989 ou 1990. 27.73 g e diâmetro 40 mm
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Última edição por Pedro Leg em segunda nov 09, 2020 6:34 pm, editado 1 vez no total.
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