Série completa das MACUTAS de prata, D. JOSE I

[doliveirarod]

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Em 1762, no reinado de D. José I, no tempo do ministério do Marquês de Pombal, surgem as macutas em cobre e prata, para suprir as necessidades de circulação no comércio local, cujo forte da economia era à época o tráfico de escravos, principalmente p/ o Brasil colonial. O nome "macuta" deriva da palavra "makuta", plural de "likuta", palavra da língua dos nativos do Congo, significava um determinado pano de fibra vegetal que circulava como "moeda" local, em regime de escambo.

Os valores em cobre consistiam originariamente em 1/4, 1/2 e 1 macuta. Os de prata em 2, 4, 6 8, 10 e 12 macutas.
A cunhagem em prata durou de 1762 até o reinado de de Dna. Maria I, findando em 1796.

REINADO DE D. JOSÉ I

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Série de valores completa:

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2 macutas 1762
prata 916,6
2,5 gramas
AG - 09.01

Datas:
1762 (tiragem desconhecida)
1763 - 20.002

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4 macutas 1763
prata 916,6
5,8 gramas
AG - 10.02

Datas:
1762 (tiragem desconhecida)
1763 (tiragem desconhecida)
1770 - 10.000

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6 macutas 1770
prata 916,6
8,8 gramas
AG - 11.03
Datas:

1762 (tiragem desconhecida)
1763 (tiragem desconhecida)
1770 - 10.000

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8 macutas 1762
prata 916,6
11.6 gramas
AG - 12.01

Datas
1762 (tiragem desconhecida)
1763 (tiragem desconhecida)
1770 - 5.000

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10 macutas 1763
prata 916,6
14.5 gramas
AG - 13.02

Datas
1762 (tiragem desconhecida)
1763 (tiragem desconhecida)
1770 - 6.000

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12 macutas 1763
prata 916,6
17.5 gramas
AG - 14.02

Datas
1762 (tiragem desconhecida)
1763 (tiragem desconhecida)
1770 - 13.330



O que mais me encanta nessas peças é a estreita ligação com a história da minha terra e do Brasil Colonial como um todo:

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(Luanda Colonial)

Angola foi descoberta pelo navegador portuguÊs Diogo Cão, em 1482, mas a colonização só começaria no século XVI, mais precisamente em 1575 com a chegada de uma centena de famílias de colonos apoiadas por 400 soldados. Luanda conseguiu o estatuto de cidade em 1605. Os interesses eram o marfim, alguns minérios, mas sobretudo escravos. Iniciava-se assim a cristianização dos nativos do Congo. No momento da chegada dos portugueses, ao sul do reino do Congo existiam alguns reinos, governados por um "rei", o "Ngola" (daí "Angola").
Os negros obtidos pelos portugueses nessas terras eram vitais para a economia açucareira do Brasil. Durante o período da União Ibérica, Pernambuco, grande produtor de açucar no nordeste do Brasil, de foi tomado pelos holandeses.
Em 1641, apoiados pela rainha local, Jinga Mbandi, conhecida como Rainha Jinga, os batavos ocuparam também Luanda, para que o tráfico não fosse interrompido para a agora "nova colônia" holandesa no nordeste brasileiro. Cortava-se também o fornecimento de negros p/ o resto do Brasil e colônias espanholas da América do Sul, numa tentativa de sufocar a economia dos ibéricos no novo mundo.
A situação era de tal gravidade que em 1648, ainda com os holandeses no Brasil (em Recife, Pernambuco), parte uma expedição de terras brasileiras, chefiada por Salvador Correia de Sá, que consegue retomar Luanda, dando assim continuidade ao vital tráfico negreiro.
Morta a rainha Jinga, o novo rei do Congo usa de toda a sua força p/ tentar expulsar os portugueses de Luanda, em 1663, mas é derrotados pelos lusos, consolidando-se o domínio definitivo da Coroa naquela área.

Daquelas terras saíram boa parte dos negros que desembarcaram como escravos para as plantações de cana do Brasil. A maioria deles desembarcava no Rio de Janeiro, no porto do Valongo, outra parte em Salvador e Recife:

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O porto do Valongo tem um recorde sombrio: foi o maior ponto de trafico de escravos negros nas colônias de todas as Américas (talvez do mundo inteiro). Nele teriam desembarcado como mercadoria mais de 1 milhão de almas, o que alguns consideram um dos grandes genocídios cometidos contra a humanidade:

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Nos tempos do Brasil Império, o Valongo foi totalmente reformado para receber a imperatriz Teresa Cristina, que iria se casar com Pedro II, jogando-se sua história e suas finalidades p/ "debaixo do tapete".

Curiosamente, agora há pouco, nas reformas do porto do Rio de Janeiro, devido à Copa do Mundo de 2014, o velho "fantasma" reapareceu:

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Ei-lo agora, se suas pedras falassem...
Achou-se ferros diversos, grilhões quebrados, cachimbos, botões e claro: umas moedinhas...

A partir de 1764, a economia angolana começa a voltar-se um pouco mais p/ o mercado interno, com a produção de gêneros agrícolas e matérias primas, e em 1836, o comércio de escravos é legalmente abolido. Mesmo após a independÊncia, o Brasil continuou a receber negros de lá, traficados por baixo dos panos por brasileiros e portugueses, tal como tradicionalmente ocorria. Negros obtidos das guerras entre as tribos locais, eram pagos por meio de mercadorias, às vezes até mesmo trocados por tonéis de cachaça.

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Certamente não é uma história bonita, mas é a verdadeira história, gosto muito de ter essas peças comigo, um "pedacinho" dela.

[josape]

E é de estar feliz por esta série completa, são moedas bem bonitas e com muita história. Parabéns.

[MCarvalho]

É uma série magnífica e um texto interessantíssimo.

Não sei se é da foto, mas fiquei particularmente maravilhado com as 12 macutas.

[tm1950]

Fabiano, divinal.
É um lote excepcional e termina com uma beleza extrema. O texto e as imagens alusivas são requintados.

[jmilheiro]

Moedas simplesmente magnificas, acompanhadas por um texto muito interessante.

[palves]

Parabéns, é uma colecção muito interessante e repleta de história. As 12 macutas estão de facto muito bonitas!

[miguelkosta]

Sem dúvida. Está de parabéns. Uma série de moedas fantástica!

[amorim mora]

Excelentes moedas amigo Fabiano ,e estão num bom estado de conservação .

Cump-Amorim Mesquita

[Nascimento]

Essencialmente a moeda de 12 Macutas, está Brutal!...talvez por ser um valor mais elevado, circulava menos!
Obrigada pela partilha Fabiano.

O que se compraria naquele tempo em Angola ou Brasil com 12Macutas....?

[cargil48]

Excelente texto, belíssima colecção! Ficamos assim mais enriquecidos a nível de cultura geral. Obrigado, Fabiano!